artista

Mónica de Miranda

Nasceu no Porto / Portugal, em 1976.
Possui antecedentes angolanos.

Trabalha de uma forma interdisciplinar através do desenho, instalação, fotografia, filme, vídeo e som, nas suas formas alargadas e na fronteira entre ficção e documentário.

“Lost Paradise”,
2016

É uma das fundadoras do projeto artístico das residências Triangle Network em Portugal e fundadora do projeto Hangar (Centro de Investigação Artística em Lisboa, 2014).

Exhibitions

  • Architecture and Manufacturing

    MAAT, Lisboa, Portugal, 2019

  • Biennale Internationale de l’Art Contemporain de Casablanca

    Casablanca, Marrocos, 2016

  • Telling Time (curadoria de Gabriela Salgado)

    10th Bamako Encounters National Museum of Mali, Bamako, Mali, 2015

  • An then again

    Pavilhão preto, Museu da cidade, Lisboa, Portugal, 2011

  • London caravan INIva

    Londres, Inglaterra, 2008

  • Transfer

    Academie des Beaux-Arts. Kinshasa, Democratic Republic of Congo, 2018

  • 12th Dak’Art

    Dakar, Senegal, 2016

  • Hotel Globo

    Museu do Chiado Lisboa, Portugal, 2015

  • Underconstruction

    (comissionado por Paul Goodwin) Pav. 28, Lisboa, Portugal, 2009

  • Do u hear me

    O Estado do Mundo- sound installation, Gulbenkian, Lisboa, Portugal, 2007

Twins, from the series Cinema Karl Marx and Plateau,
2017

No seu recente projeto Panorama (2017), Mónica de Miranda olha novamente para a arquitetura modernista em Angola. Com o Hotel Globo (2014-2015), ela já tinha examinado de forma crítica a alteração da paisagem urbana em Luanda através de incursões em vídeo, fotografia e performativas, nas paisagens interiores do Hotel Globo da década de 50.



O hotel modernista ainda funciona na baixa de Luanda, onde o património arquitetónico tem vindo a ser cada vez mais substituído por edifícios em altura, gentrificados e luxuosos. Na obra de Miranda, o Globo torna-se numa “lente” espaciotemporal e afetiva, através da qual o seu próprio corpo contempla as múltiplas geografias e histórias da cidade – colonial, pós-independência, pós-Guerra Fria, pós-guerra civil – a fim de refletir sobre a complexidade dum presente disposto em camadas e de imaginar a possibilidade de diferentes futuros (Balona de Oliveira 2016; Balona de Oliveira 2017a).
Em Archipelago (2014) e Field Work (2016), as irmãs gémeas fazem a sua primeira aparição na obra de Miranda, outra estratégia para abordar a “intermediação” e a “duplicação” do eu e do outro, do aqui e do acolá, que fazem parte da híbrida subjetividade da diáspora (Bhabha 1994). Tendo aparecido como crianças nas instalações acima referidas, em Panorama, as gémeas cresceram, entretanto.

Twins, from the series Cinema Karl Marx and Plateau,
2017






« (…) A natureza fragmentada e fragmentária das visões panorâmicas de Miranda – paisagens arquitetónicas e naturais habitadas, afetivas e situadas a nível espaciotemporal – resistem ao momento despolitizado em que as aceções se perdem e a preocupação pela ação desaparece. As aceções são sempre contingentes e posicionais, em constante mudança e relacionais, mas, no que diz respeito a ser e ao devir, também são arenas para lutas de reconhecimento e resistência (Hall 1990)

Cinema Karl Marx,
2017




(…) Quanto à história, memória, desejo e condição de (não) pertença a diversos espaços e tempos, os olhares múltiplos e multiplicadores de Panorama não resgatam a sensação de perda de pontos de origem estáveis ou enraizamento – uma origem que só poderia ser vista miticamente para permitir uma visão unificada, um conhecimento e experiência do mundo, do eu e das comunidades.





(…) Enraizada na própria experiência autobiográfica de Miranda, de pertencer tanto à Europa como a África, a Portugal e a Angola (com o Reino Unido e o Brasil também a fazerem parte da sua geografia afetiva), a ânsia que surge da perda de um sentimento estável de pertença não cai nas armadilhas míticas da nostalgia. Em vez disso, ao longo e através da sua prática, a artista transforma o que é, na verdade, um desejo potencialmente nostálgico num desejo cosmopolita, comunitário e orientado para o futuro de estar em casa no mundo (este cosmopolitismo de ter de permanecer profundamente crítico, contudo, com a capacidade de atravessar fronteiras é um privilégio ao qual a maioria das pessoas carenciadas em todo o mundo não se pode dar ao luxo).

(…) As várias cenas compostas e individuais de Karl Marx (cinema), juntamente com a história contada pela sua mudança de nome, a sua atual condição de ruína e a sua reativação artística, evidenciam a própria passagem do tempo no tecido espacial, a qualidade mítica de visões totalizantes – seja do olhar, do sujeito, da história, da natureza, da sociedade, da origem ou da identidade – e a imaginação de futuros alternativos, partilhados e partilháveis. Futuros panorâmicos, manifestamente constituídos por fragmentos em movimento; futuros mundanos, (não) pertencentes, produzidos pela própria divisão, duplicação e geminação do lar. »

Ana Balona de Oliveira, (excertos), 2019 in Atlantica